terça-feira, 17 de maio de 2011

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Maças e tardes
e pernas
e tambem de pés descalços

Do que for natural
visceral e humano
do que se pode provar pouco a pouco

Dos dias crus
sem planos e molduras
das manhas que atravessam cortinas
das coisas espalhadas
que carregam um passado
demasiado recente

Da musica e do que ela provoca
De observar pessoas e seus sorrisos

De guarda chuvas na rua
e do fato de serem quase sempre inuteis

De quando eles tiram os oculos
para escutarem melhor
De quando sao vencidos pelo vento
e apesar de grandes, nao conseguirem
acender seus cigarros

Das amigas
e do andar quase infantil que elas adquirem
quando estao juntas

Das banalidades
da linha sutil que se tem de atravessar
para torna-las profundas, transcedentais

Dos olhos puxados
e do fato de nao me dizerem quase nada

Da melancolia das fotos,
da potencia fragil que todas carregam

Do velho, do gasto,
do que se tornou essencial

De quem vai de bicicleta
e das expressoes que dançam
entre uma concentraçao profunda
e uma total distraçao

Da chuva la fora

Das urgencias, chamados
e saudades
Das atitudes estranhas
humanamente irreconheciveis

Da cor bege dos turistas
e tambem dessa felicidade fugaz
que eles carregam
e que se desmancha na esquina

Do mundo paralelo
quase metafisico que os
reflexos criam

Da expectativa das varandas vazias
e de quem aparece por ali

Dos casais velhos
do tédio doce
e insuperavel

De quem nao tem medo
do silencio e do azedo

Das listras e estampas
e do fato de nada representarem

Do fato de cada um poder ser um mundo
distinto
e ao mesmo tempo criarem
respostas iguais a quase tudo

Do que nao posso entender
das linguas exoticas e insensiveis

Do que é doce
e tambem arisco

Posso quase derreter
com o que vejo daqui.
Só se passaram dez minutos.
Quanto tempo cabe em dez minutos?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

vem ver

olha voce nao vai acreditar no que eu to vendo
daqui da janela
eu nao sei se é o fim do mundo
ou se é qualquer dessas coisas que dividem
o mundo em antes e depois
mas o céu ta assim indeciso em dezenas de tons de azul
e os passaros
voce nao faz ideia do que eles andam fazendo por aqui
parece que é festa no ceu
fim de tarde
mil passaros felizes e raivosos
fingindo que dominaram qualquer coisa
e vai ver...

domingo, 1 de maio de 2011

a vista da poltrona

era como se tudo tivesse deixado de ser o que era
para se tornar caminho dos ventos
como se todas aquelas coisas tivessem abdicado da vida sem vida

o vento percorrendo a sala
sacudindo as paredes, fluido inquieto
num cemiterio de coisas mortas ha muito tempo
as coisas talvez tivessem decidido em assembleia
morrer mais um pouco
como se morrer fosse retroceder em reverencias infinitas ao vento

e entao nem sei mais...
talvez as coisas estejam morrendo mesmo
e tambem talvez nao se tenha mais nada a dizer sobre isso