quinta-feira, 13 de outubro de 2011

monstro

Assim como se a melancolia fosse líquida
E escapasse sutil e discreta pelos poros da pele
e então envolvesse o corpo num suor voluntário
Ele era assim envolto na própria melancolia do ser
Como se ela fosse sua parte mais crua e eterna
E como se nada mais restasse além dela
depois de um sopro de vida

Ele era assim melancólico.
A cabeça acariciava o ombro num gesto redondo e dengoso. Triste.
Chorava mágoas inventadas
Sem dúvida era desses que os dias se passam
mais dentro que fora.

Quando caminhou na minha direção
a melancolia escorria pelas pernas e braços
Talvez tudo fosse intenso demais dentro dele
e ele mesmo não suportasse.

E tão humano ele era.
Ainda que de um certo ângulo
pudesse ver algo assim. Uma espécie de monstro.
É que as vezes o corpo não lhe cabe.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

em chamas

Ele não disse nada
Quando sentou ao meu lado
já estava em chamas
Assim sem perceber a ardência que lhe tomava
fazia pequenos movimentos com as mãos
em ações banais
atípicas aos que fervem

Seu calor quase me envolvia
e então pensei em mudar de lugar
e depois. depois não
achei que minha atitude
pudesse assim beirar o preconceito

e lá estava ele em chamas

e nós envoltos em silêncio
o silêncio absoluto dos desconhecidos