domingo, 27 de novembro de 2011

O tempo atravessado em flecha na garganta

Pensou que talvez fosse melhor retroceder
Alguns passos talvez. Talvez ninguém perceba
Reduzir-se em pó numa tarde qualquer
quando nada se espera. Então sumir pra dentro.

Constatou a morte pura da noite anterior,
num gesto único dos mutilados.
(Aos que se atrevem a verdade dança no canto dos olhos)
Morreu ali. Na altura do peito. No abraço sem volta.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

a língua dobrada num ângulo reto,
o veneno lento que não chega a existir,
a pausa. lacuna diabolicamente eterna. Não é daqui.
mas e se eu te contasse dos caramujos, caracóis
debaixo da minha pele
cobertos de epiderme e segredo
sentindo tudo sem sentir
num nó sutil e orgânico?
desses que se formam espontaneamente
quando o dia invade corpo adentro sem cerimônias.
e quando tampouco se pode entender certos tons de cinza.

vim falar sobre a aflição da potência
que rodeia c-a-d-a palavra em velocidade de borboleta
mas me perdi.
Nesse furacão singelo. na curva inquieta da asa

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Completamente crua.

Parece não ver.
E certas vezes parece até não sentir.
Branca.
Poucas vezes a vi com uma sede corrosiva.
Sua fome parece surgir na cabeça,
Talvez ela pense em comida mais do que deveria.
Se alimenta para calar fomes mudas.
Calar fomes mudas.

Parece sobreviver. Sempre.
Mesmo em tardes amenas,
Na doçura do momento.
Nada de desfrutar. Sobreviver.
Ainda que levemente alegre.
Dessas alegrias bobas, festivas.

Ela vive na periferia.
Vive na periferia de si mesma
Equilibrando-se na própria escassez.

Parece não salivar.

Parece não crer em nada.

Da última vez que foi vista
Vagava silenciosamente

...dentro de si mesma.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ele disse que não me via há muito tempo
Realmente. Meses.
Poucas coisas pareciam ter mudado.
Talvez um sofá, livros ou
Talvez até as sombras das árvores ali de fora
Tudo era mais denso
Tudo parecia fazer questão de existir. Sabe?
Então ensaiei mentalmente o que diria naquele momento esquisito
(e então descobri que gosto do gosto desses momentos estranhos)
Ensaios são inúteis. Me entreguei num nó de palavras sem volta.

Ele lembrou. “ lógico que me lembro. Pelo tom da tua voz...”.
Foi assim que percebi que ele não era humano. Pelo menos não até agora.
E não sei como isso me escapou da ultima vez que o vi. Como não perceber esse tipo de coisa. Mas ele não era mesmo.

O que ficou foi o tom da voz.
Como se nada mais importasse
depois dessa coisa sem medida
sem ensaio, ritmo. Sem verniz.

O tom.

Assim tão seco,curto.
essa forma de reconhecer e lembrar
tem uma febre nisso tudo. Sente?
Instintivo,
animalesco.