veia furou a pele e saiu
dali não pingou sangue
notei que embora o líquido não fosse real
me percorria indeciso entre sair ou não do corpo
até que. se misturou nele mesmo
quando o que te percorre já não tem trajetória
é assim. como não fazer questão do próprio sangue
e qualquer líquido alheio a ti é fonte segura de febre e pulso
teu corpo passa a ser o que está em volta
chuva e folha e mais não sei o que. órgãos infinitos que não te habitam e te mantêm em vida.
teu corpo vazio.
é quase que estar do lado do avesso,
e em vez de vísceras,
o mundo.
sábado, 10 de dezembro de 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
O tempo atravessado em flecha na garganta
Pensou que talvez fosse melhor retroceder
Alguns passos talvez. Talvez ninguém perceba
Reduzir-se em pó numa tarde qualquer
quando nada se espera. Então sumir pra dentro.
Constatou a morte pura da noite anterior,
num gesto único dos mutilados.
(Aos que se atrevem a verdade dança no canto dos olhos)
Morreu ali. Na altura do peito. No abraço sem volta.
Pensou que talvez fosse melhor retroceder
Alguns passos talvez. Talvez ninguém perceba
Reduzir-se em pó numa tarde qualquer
quando nada se espera. Então sumir pra dentro.
Constatou a morte pura da noite anterior,
num gesto único dos mutilados.
(Aos que se atrevem a verdade dança no canto dos olhos)
Morreu ali. Na altura do peito. No abraço sem volta.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
a língua dobrada num ângulo reto,
o veneno lento que não chega a existir,
a pausa. lacuna diabolicamente eterna. Não é daqui.
mas e se eu te contasse dos caramujos, caracóis
debaixo da minha pele
cobertos de epiderme e segredo
sentindo tudo sem sentir
num nó sutil e orgânico?
desses que se formam espontaneamente
quando o dia invade corpo adentro sem cerimônias.
e quando tampouco se pode entender certos tons de cinza.
vim falar sobre a aflição da potência
que rodeia c-a-d-a palavra em velocidade de borboleta
mas me perdi.
Nesse furacão singelo. na curva inquieta da asa
o veneno lento que não chega a existir,
a pausa. lacuna diabolicamente eterna. Não é daqui.
mas e se eu te contasse dos caramujos, caracóis
debaixo da minha pele
cobertos de epiderme e segredo
sentindo tudo sem sentir
num nó sutil e orgânico?
desses que se formam espontaneamente
quando o dia invade corpo adentro sem cerimônias.
e quando tampouco se pode entender certos tons de cinza.
vim falar sobre a aflição da potência
que rodeia c-a-d-a palavra em velocidade de borboleta
mas me perdi.
Nesse furacão singelo. na curva inquieta da asa
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Completamente crua.
Parece não ver.
E certas vezes parece até não sentir.
Branca.
Poucas vezes a vi com uma sede corrosiva.
Sua fome parece surgir na cabeça,
Talvez ela pense em comida mais do que deveria.
Se alimenta para calar fomes mudas.
Calar fomes mudas.
Parece sobreviver. Sempre.
Mesmo em tardes amenas,
Na doçura do momento.
Nada de desfrutar. Sobreviver.
Ainda que levemente alegre.
Dessas alegrias bobas, festivas.
Ela vive na periferia.
Vive na periferia de si mesma
Equilibrando-se na própria escassez.
Parece não salivar.
Parece não crer em nada.
Da última vez que foi vista
Vagava silenciosamente
...dentro de si mesma.
E certas vezes parece até não sentir.
Branca.
Poucas vezes a vi com uma sede corrosiva.
Sua fome parece surgir na cabeça,
Talvez ela pense em comida mais do que deveria.
Se alimenta para calar fomes mudas.
Calar fomes mudas.
Parece sobreviver. Sempre.
Mesmo em tardes amenas,
Na doçura do momento.
Nada de desfrutar. Sobreviver.
Ainda que levemente alegre.
Dessas alegrias bobas, festivas.
Ela vive na periferia.
Vive na periferia de si mesma
Equilibrando-se na própria escassez.
Parece não salivar.
Parece não crer em nada.
Da última vez que foi vista
Vagava silenciosamente
...dentro de si mesma.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Ele disse que não me via há muito tempo
Realmente. Meses.
Poucas coisas pareciam ter mudado.
Talvez um sofá, livros ou
Talvez até as sombras das árvores ali de fora
Tudo era mais denso
Tudo parecia fazer questão de existir. Sabe?
Então ensaiei mentalmente o que diria naquele momento esquisito
(e então descobri que gosto do gosto desses momentos estranhos)
Ensaios são inúteis. Me entreguei num nó de palavras sem volta.
Ele lembrou. “ lógico que me lembro. Pelo tom da tua voz...”.
Foi assim que percebi que ele não era humano. Pelo menos não até agora.
E não sei como isso me escapou da ultima vez que o vi. Como não perceber esse tipo de coisa. Mas ele não era mesmo.
O que ficou foi o tom da voz.
Como se nada mais importasse
depois dessa coisa sem medida
sem ensaio, ritmo. Sem verniz.
O tom.
Assim tão seco,curto.
essa forma de reconhecer e lembrar
tem uma febre nisso tudo. Sente?
Instintivo,
animalesco.
Realmente. Meses.
Poucas coisas pareciam ter mudado.
Talvez um sofá, livros ou
Talvez até as sombras das árvores ali de fora
Tudo era mais denso
Tudo parecia fazer questão de existir. Sabe?
Então ensaiei mentalmente o que diria naquele momento esquisito
(e então descobri que gosto do gosto desses momentos estranhos)
Ensaios são inúteis. Me entreguei num nó de palavras sem volta.
Ele lembrou. “ lógico que me lembro. Pelo tom da tua voz...”.
Foi assim que percebi que ele não era humano. Pelo menos não até agora.
E não sei como isso me escapou da ultima vez que o vi. Como não perceber esse tipo de coisa. Mas ele não era mesmo.
O que ficou foi o tom da voz.
Como se nada mais importasse
depois dessa coisa sem medida
sem ensaio, ritmo. Sem verniz.
O tom.
Assim tão seco,curto.
essa forma de reconhecer e lembrar
tem uma febre nisso tudo. Sente?
Instintivo,
animalesco.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
monstro
Assim como se a melancolia fosse líquida
E escapasse sutil e discreta pelos poros da pele
e então envolvesse o corpo num suor voluntário
Ele era assim envolto na própria melancolia do ser
Como se ela fosse sua parte mais crua e eterna
E como se nada mais restasse além dela
depois de um sopro de vida
Ele era assim melancólico.
A cabeça acariciava o ombro num gesto redondo e dengoso. Triste.
Chorava mágoas inventadas
Sem dúvida era desses que os dias se passam
mais dentro que fora.
Quando caminhou na minha direção
a melancolia escorria pelas pernas e braços
Talvez tudo fosse intenso demais dentro dele
e ele mesmo não suportasse.
E tão humano ele era.
Ainda que de um certo ângulo
pudesse ver algo assim. Uma espécie de monstro.
É que as vezes o corpo não lhe cabe.
E escapasse sutil e discreta pelos poros da pele
e então envolvesse o corpo num suor voluntário
Ele era assim envolto na própria melancolia do ser
Como se ela fosse sua parte mais crua e eterna
E como se nada mais restasse além dela
depois de um sopro de vida
Ele era assim melancólico.
A cabeça acariciava o ombro num gesto redondo e dengoso. Triste.
Chorava mágoas inventadas
Sem dúvida era desses que os dias se passam
mais dentro que fora.
Quando caminhou na minha direção
a melancolia escorria pelas pernas e braços
Talvez tudo fosse intenso demais dentro dele
e ele mesmo não suportasse.
E tão humano ele era.
Ainda que de um certo ângulo
pudesse ver algo assim. Uma espécie de monstro.
É que as vezes o corpo não lhe cabe.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
em chamas
Ele não disse nada
Quando sentou ao meu lado
já estava em chamas
Assim sem perceber a ardência que lhe tomava
fazia pequenos movimentos com as mãos
em ações banais
atípicas aos que fervem
Seu calor quase me envolvia
e então pensei em mudar de lugar
e depois. depois não
achei que minha atitude
pudesse assim beirar o preconceito
e lá estava ele em chamas
e nós envoltos em silêncio
o silêncio absoluto dos desconhecidos
Quando sentou ao meu lado
já estava em chamas
Assim sem perceber a ardência que lhe tomava
fazia pequenos movimentos com as mãos
em ações banais
atípicas aos que fervem
Seu calor quase me envolvia
e então pensei em mudar de lugar
e depois. depois não
achei que minha atitude
pudesse assim beirar o preconceito
e lá estava ele em chamas
e nós envoltos em silêncio
o silêncio absoluto dos desconhecidos
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
radioatividade
- Tudo que passou não tem fim...- Foi sua constatação árida depois de alguns minutos de silêncio, que logo se transformou em fumaça com um último trago no cigarro
Sabia que de qualquer forma ele nao a escutava. Há muito tempo não escutava suas palavras. E também seus silêncios, o que de certa forma parecia algo ainda mais triste. Sabia que aquele olhar a atravessava e que em alguns instantes soltaria uma dessas perguntas cinzentas sobre o dia a dia, dessas que incluem comidas, horarios ou transitos.
- Hoje faz um mês que voltei da viagem a Itália. Aquilo tudo foi uma loucura...Uma semana completamente só e perdida, sem saber o que fazer com o tempo nas mãos. Aquela organização falsa e superficial dos que viajam sozinhos e toda a comida quando nem sentia fome, os cafés e o vazio. E agora isso tudo me preenche, só consigo sentir carinho pelo que passou. Tudo ainda me afeta. Acho que as coisas do passado são pedras radiotivas que emanam essa coisa pra sempre...
- Radioatividade?
- É.
- Tudo continua nos afetando. Talvez ainda mais! Como se o tempo deixasse tudo mais maduro e pudéssemos provar infinitas vezes das mesmas experiencias. Podemos provar mil vezes da mesma fruta e o gosto se modifica...
Mastigando as palavras assim devagar, com um olhar baixo e vazio. Ela era uma catarse amorfa sentada no sofá.
Ele era o que sempre foi:
- Já são duas da tarde...Vamos comer alguma coisa?
Sabia que de qualquer forma ele nao a escutava. Há muito tempo não escutava suas palavras. E também seus silêncios, o que de certa forma parecia algo ainda mais triste. Sabia que aquele olhar a atravessava e que em alguns instantes soltaria uma dessas perguntas cinzentas sobre o dia a dia, dessas que incluem comidas, horarios ou transitos.
- Hoje faz um mês que voltei da viagem a Itália. Aquilo tudo foi uma loucura...Uma semana completamente só e perdida, sem saber o que fazer com o tempo nas mãos. Aquela organização falsa e superficial dos que viajam sozinhos e toda a comida quando nem sentia fome, os cafés e o vazio. E agora isso tudo me preenche, só consigo sentir carinho pelo que passou. Tudo ainda me afeta. Acho que as coisas do passado são pedras radiotivas que emanam essa coisa pra sempre...
- Radioatividade?
- É.
- Tudo continua nos afetando. Talvez ainda mais! Como se o tempo deixasse tudo mais maduro e pudéssemos provar infinitas vezes das mesmas experiencias. Podemos provar mil vezes da mesma fruta e o gosto se modifica...
Mastigando as palavras assim devagar, com um olhar baixo e vazio. Ela era uma catarse amorfa sentada no sofá.
Ele era o que sempre foi:
- Já são duas da tarde...Vamos comer alguma coisa?
quarta-feira, 8 de junho de 2011
...
Ela ainda de avental,
e por baixo a roupa escolhida depois de horas
de um diálogo aflito com o guarda-roupa
esperando parecer assim...naturalmente linda
enrolada dentro dos limites do que lhe parecia perfeito
Um cd antigo de jazz, meia luz.
e ela nem gostava de jazz. Mas, achava que
tinha assim uma impessoalidade ideal
e ainda de avental
Ela suava, pelo calor na cozinha
pelo nervosismo do que esperava
pelas coisas la fora
panos quentes, ebuliçao e vapor
e a mesa posta
a afliçao dobrada nos guardanapos
o reflexo opaco dos pratos
e tudo aquilo parecia infinito, interminavel
era tao dificil de encontrar naturalidade
como se o encontro fosse com ela mesma
tinha a boca seca. e tinha pouco o que falar.
guardou alguns topicos do jornal de ontem
e esparava nao se aprofundar muito nesses assuntos
mas,agora só a espera
ela sabe que o interfone vai tocar
e entao ela vai ficar indecisa entre abrir logo a porta ou nao
e vai escolher nao abrir,
e vai olhar pelo olho magico, mesmo sabendo quem esta do outro lado
vai abrir a porta com um sorriso de quem esconde toda a afliçao solitaria
entao ela vai pedir que ele espere um minuto
vai caminhar ate o banheiro, se olhar no espelho
e depois do reflexo opaco
ela vai perguntar como foi o dia dele
e entao,
e entao o telefone toca.
o telefone toca e ele nao vem.
senta-se a mesa
indecisa
nao sabe dizer qual solidao é pior
a de antes ou de agora.
e com pensamentos rapidos. e lentos.
ela desdobra devagar os guardanapos
deixando escapar no ar
a afliçao de antes
as musicas do cd ja acabaram
silêncio.
e por baixo a roupa escolhida depois de horas
de um diálogo aflito com o guarda-roupa
esperando parecer assim...naturalmente linda
enrolada dentro dos limites do que lhe parecia perfeito
Um cd antigo de jazz, meia luz.
e ela nem gostava de jazz. Mas, achava que
tinha assim uma impessoalidade ideal
e ainda de avental
Ela suava, pelo calor na cozinha
pelo nervosismo do que esperava
pelas coisas la fora
panos quentes, ebuliçao e vapor
e a mesa posta
a afliçao dobrada nos guardanapos
o reflexo opaco dos pratos
e tudo aquilo parecia infinito, interminavel
era tao dificil de encontrar naturalidade
como se o encontro fosse com ela mesma
tinha a boca seca. e tinha pouco o que falar.
guardou alguns topicos do jornal de ontem
e esparava nao se aprofundar muito nesses assuntos
mas,agora só a espera
ela sabe que o interfone vai tocar
e entao ela vai ficar indecisa entre abrir logo a porta ou nao
e vai escolher nao abrir,
e vai olhar pelo olho magico, mesmo sabendo quem esta do outro lado
vai abrir a porta com um sorriso de quem esconde toda a afliçao solitaria
entao ela vai pedir que ele espere um minuto
vai caminhar ate o banheiro, se olhar no espelho
e depois do reflexo opaco
ela vai perguntar como foi o dia dele
e entao,
e entao o telefone toca.
o telefone toca e ele nao vem.
senta-se a mesa
indecisa
nao sabe dizer qual solidao é pior
a de antes ou de agora.
e com pensamentos rapidos. e lentos.
ela desdobra devagar os guardanapos
deixando escapar no ar
a afliçao de antes
as musicas do cd ja acabaram
silêncio.
terça-feira, 17 de maio de 2011
.
Maças e tardes
e pernas
e tambem de pés descalços
Do que for natural
visceral e humano
do que se pode provar pouco a pouco
Dos dias crus
sem planos e molduras
das manhas que atravessam cortinas
das coisas espalhadas
que carregam um passado
demasiado recente
Da musica e do que ela provoca
De observar pessoas e seus sorrisos
De guarda chuvas na rua
e do fato de serem quase sempre inuteis
De quando eles tiram os oculos
para escutarem melhor
De quando sao vencidos pelo vento
e apesar de grandes, nao conseguirem
acender seus cigarros
Das amigas
e do andar quase infantil que elas adquirem
quando estao juntas
Das banalidades
da linha sutil que se tem de atravessar
para torna-las profundas, transcedentais
Dos olhos puxados
e do fato de nao me dizerem quase nada
Da melancolia das fotos,
da potencia fragil que todas carregam
Do velho, do gasto,
do que se tornou essencial
De quem vai de bicicleta
e das expressoes que dançam
entre uma concentraçao profunda
e uma total distraçao
Da chuva la fora
Das urgencias, chamados
e saudades
Das atitudes estranhas
humanamente irreconheciveis
Da cor bege dos turistas
e tambem dessa felicidade fugaz
que eles carregam
e que se desmancha na esquina
Do mundo paralelo
quase metafisico que os
reflexos criam
Da expectativa das varandas vazias
e de quem aparece por ali
Dos casais velhos
do tédio doce
e insuperavel
De quem nao tem medo
do silencio e do azedo
Das listras e estampas
e do fato de nada representarem
Do fato de cada um poder ser um mundo
distinto
e ao mesmo tempo criarem
respostas iguais a quase tudo
Do que nao posso entender
das linguas exoticas e insensiveis
Do que é doce
e tambem arisco
Posso quase derreter
com o que vejo daqui.
Só se passaram dez minutos.
Quanto tempo cabe em dez minutos?
e pernas
e tambem de pés descalços
Do que for natural
visceral e humano
do que se pode provar pouco a pouco
Dos dias crus
sem planos e molduras
das manhas que atravessam cortinas
das coisas espalhadas
que carregam um passado
demasiado recente
Da musica e do que ela provoca
De observar pessoas e seus sorrisos
De guarda chuvas na rua
e do fato de serem quase sempre inuteis
De quando eles tiram os oculos
para escutarem melhor
De quando sao vencidos pelo vento
e apesar de grandes, nao conseguirem
acender seus cigarros
Das amigas
e do andar quase infantil que elas adquirem
quando estao juntas
Das banalidades
da linha sutil que se tem de atravessar
para torna-las profundas, transcedentais
Dos olhos puxados
e do fato de nao me dizerem quase nada
Da melancolia das fotos,
da potencia fragil que todas carregam
Do velho, do gasto,
do que se tornou essencial
De quem vai de bicicleta
e das expressoes que dançam
entre uma concentraçao profunda
e uma total distraçao
Da chuva la fora
Das urgencias, chamados
e saudades
Das atitudes estranhas
humanamente irreconheciveis
Da cor bege dos turistas
e tambem dessa felicidade fugaz
que eles carregam
e que se desmancha na esquina
Do mundo paralelo
quase metafisico que os
reflexos criam
Da expectativa das varandas vazias
e de quem aparece por ali
Dos casais velhos
do tédio doce
e insuperavel
De quem nao tem medo
do silencio e do azedo
Das listras e estampas
e do fato de nada representarem
Do fato de cada um poder ser um mundo
distinto
e ao mesmo tempo criarem
respostas iguais a quase tudo
Do que nao posso entender
das linguas exoticas e insensiveis
Do que é doce
e tambem arisco
Posso quase derreter
com o que vejo daqui.
Só se passaram dez minutos.
Quanto tempo cabe em dez minutos?
sexta-feira, 6 de maio de 2011
vem ver
olha voce nao vai acreditar no que eu to vendo
daqui da janela
eu nao sei se é o fim do mundo
ou se é qualquer dessas coisas que dividem
o mundo em antes e depois
mas o céu ta assim indeciso em dezenas de tons de azul
e os passaros
voce nao faz ideia do que eles andam fazendo por aqui
parece que é festa no ceu
fim de tarde
mil passaros felizes e raivosos
fingindo que dominaram qualquer coisa
e vai ver...
daqui da janela
eu nao sei se é o fim do mundo
ou se é qualquer dessas coisas que dividem
o mundo em antes e depois
mas o céu ta assim indeciso em dezenas de tons de azul
e os passaros
voce nao faz ideia do que eles andam fazendo por aqui
parece que é festa no ceu
fim de tarde
mil passaros felizes e raivosos
fingindo que dominaram qualquer coisa
e vai ver...
domingo, 1 de maio de 2011
a vista da poltrona
era como se tudo tivesse deixado de ser o que era
para se tornar caminho dos ventos
como se todas aquelas coisas tivessem abdicado da vida sem vida
o vento percorrendo a sala
sacudindo as paredes, fluido inquieto
num cemiterio de coisas mortas ha muito tempo
as coisas talvez tivessem decidido em assembleia
morrer mais um pouco
como se morrer fosse retroceder em reverencias infinitas ao vento
e entao nem sei mais...
talvez as coisas estejam morrendo mesmo
e tambem talvez nao se tenha mais nada a dizer sobre isso
para se tornar caminho dos ventos
como se todas aquelas coisas tivessem abdicado da vida sem vida
o vento percorrendo a sala
sacudindo as paredes, fluido inquieto
num cemiterio de coisas mortas ha muito tempo
as coisas talvez tivessem decidido em assembleia
morrer mais um pouco
como se morrer fosse retroceder em reverencias infinitas ao vento
e entao nem sei mais...
talvez as coisas estejam morrendo mesmo
e tambem talvez nao se tenha mais nada a dizer sobre isso
quarta-feira, 30 de março de 2011
absurdo
Talvez ela carregasse toda a chuva do dia
nos cabelos molhados
E ela carregando toda aquela agua
me parecia louca, morta ou irreal.
Ela era pura. chuva
E já tinha parado de chover a tantas horas daquele dia
que eu nem sei...
Talvez uma magia na forma com que ela guardava a chuva no cabelo.
Tinha algo a mais. Era um bicho. E era como se a agua fizesse parte do seu corpo,
como se existissem pessoas morenas,magras e molhadas.
E como se ela nao soubesse disso.
E como se ela pudesse fazer chover. E sendo assim. Tao simples.
Tudo perdia o sentido.
Ela se diluindo
gota
por
gota
nos cabelos molhados
E ela carregando toda aquela agua
me parecia louca, morta ou irreal.
Ela era pura. chuva
E já tinha parado de chover a tantas horas daquele dia
que eu nem sei...
Talvez uma magia na forma com que ela guardava a chuva no cabelo.
Tinha algo a mais. Era um bicho. E era como se a agua fizesse parte do seu corpo,
como se existissem pessoas morenas,magras e molhadas.
E como se ela nao soubesse disso.
E como se ela pudesse fazer chover. E sendo assim. Tao simples.
Tudo perdia o sentido.
Ela se diluindo
gota
por
gota
segunda-feira, 28 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
eu nao sei
A arte é a unica realidade inerente ao homem.
Todo o resto pode ser ilusao. Nao no sentido negativo da palavra, mas na forma mais ampla de Ilusao. Todo o resto é colocado no mundo, mas fruto de pensamentos, desejos, ideias e ambiçoes.
Todo o resto é produto do homem no mundo. E nesse caminho de dentro para fora ou de fora para fora, o trajeto faz curva onde a ilusao se acumula.
A arte nao faz caminho nem curva, nao ha distancia suficiente entre o homem e a propria arte para que a ilusao se acumule ai.
A realidade possivel do homem é a arte.
A realidade possivel da vida, do mundo, é a natureza. É o espaço que se criou sozinho e que tampouco distanciou-se de si mesmo suficientemente para que a ilusao pudesse se acumular ali.
Pode ser que toda diferença do real e nao real esteja na distancia que algo cria de si mesmo para fazer existir alguma coisa.
Talvez nem tenha a ver com sentimento, a arte. Talvez tenha a ver com a ausencia de distancia entre o que se cria e o criador. O que de mais humano tem em ti. O que de mais humano tem em ti?
Todo o resto pode ser ilusao. Nao no sentido negativo da palavra, mas na forma mais ampla de Ilusao. Todo o resto é colocado no mundo, mas fruto de pensamentos, desejos, ideias e ambiçoes.
Todo o resto é produto do homem no mundo. E nesse caminho de dentro para fora ou de fora para fora, o trajeto faz curva onde a ilusao se acumula.
A arte nao faz caminho nem curva, nao ha distancia suficiente entre o homem e a propria arte para que a ilusao se acumule ai.
A realidade possivel do homem é a arte.
A realidade possivel da vida, do mundo, é a natureza. É o espaço que se criou sozinho e que tampouco distanciou-se de si mesmo suficientemente para que a ilusao pudesse se acumular ali.
Pode ser que toda diferença do real e nao real esteja na distancia que algo cria de si mesmo para fazer existir alguma coisa.
Talvez nem tenha a ver com sentimento, a arte. Talvez tenha a ver com a ausencia de distancia entre o que se cria e o criador. O que de mais humano tem em ti. O que de mais humano tem em ti?
sexta-feira, 11 de março de 2011
cidade amarela
A cidade é pra dentro. Sabe como é né? Cidade pra dentro...
Todos os postos ocupados, nada infla nem flutua. Uma desorganizaçao harmonica. Cidade impenetravel, estatica e voraz.Tudo em seu devido lugar. E entao. E entao voce quase nao existe nela. A luz do poste é mais util que voce, queridinho.
Nao cresce.Nao anda pra tras. Quem vive nela percorre,mas nao penetra, nao cheira, nao toca. Parece ter sido feita pra quem nao é daqui. E por fim ela se recolhe. Ela é uma velha senhora que se recolhe da varanda no final da tarde.
A sensaçao mais estranha nao é essa. A sensaçao mais estranha é a de nao saber se desvendei sua essencia ou...enlouqueci.
Todos os postos ocupados, nada infla nem flutua. Uma desorganizaçao harmonica. Cidade impenetravel, estatica e voraz.Tudo em seu devido lugar. E entao. E entao voce quase nao existe nela. A luz do poste é mais util que voce, queridinho.
Nao cresce.Nao anda pra tras. Quem vive nela percorre,mas nao penetra, nao cheira, nao toca. Parece ter sido feita pra quem nao é daqui. E por fim ela se recolhe. Ela é uma velha senhora que se recolhe da varanda no final da tarde.
A sensaçao mais estranha nao é essa. A sensaçao mais estranha é a de nao saber se desvendei sua essencia ou...enlouqueci.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Porto
É que essa tua janela fechada me disse coisas
das quais tua varanda também ressaltou
e teus varais e cores e panos e meias
e todas as suas tardes, aventais e suspiros
e todas essas coisas que eu imagino
e que sequer chegaram a te acontecer
É que eu inventei tua vida
mas nao te contei.
Simplesmente porque nao te conheço
só te vi passar.
te vi passar só.
das quais tua varanda também ressaltou
e teus varais e cores e panos e meias
e todas as suas tardes, aventais e suspiros
e todas essas coisas que eu imagino
e que sequer chegaram a te acontecer
É que eu inventei tua vida
mas nao te contei.
Simplesmente porque nao te conheço
só te vi passar.
te vi passar só.
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